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quinta-feira, 16 de junho de 2011

Carta aberta do Fórum Europeu LGBT ao Papa Bento XVI

Carta entregue, pelo Fórum LGBT Europeu ao Papa Bento XVI! Vale a pena Ler e Apoiar! :D

Santo Padre, apelamos ao senhor para pedir uma condenação dos atos de violência contra Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros (LGBT) e pedimos a colaboração de Vossa Santidade para a descriminalização dos atos homossexuais em nível mundial.

O silêncio de Vossa Santidade é muitas vezes interpretado pelas pessoas que cometem atos de violência, tortura e assassinato como um parecer favorável às suas ações.

Por exemplo, em janeiro deste ano, David Kato, um ativista na luta pelos direitos das pessoas LGBT, foi brutalmente assassinado na Uganda.

Episódios de violência, torturas e assassinatos contra as pessoas LGBT são verificados frequentemente em diversas partes do mundo, e quem as põe em prática está muitas vezes convicto de sua conformidade à vontade da Igreja Católica.

Esse convencimento é reforçado pelo fato de que, em dezembro de 2008, a Santa Sé ter se recusado a apoiar a Declaração das Nações Unidas sobre a orientação sexual e a identidade de gênero.

A declaração contém um parágrafo que exorta a todos os Estados a assegurar que a orientação sexual ou a identidade de gênero não possam ser, em nenhuma circunstância, a base para a aplicação de penas criminais, particularmente de execuções, prisões ou detenções.

Além disso, apelamos à Vossa Santidade para que sejam fornecidas a todos os cristãos informações claras a respeito das passagens da Bíblia que são usadas para justificar esses atos aberrantes.

Assim como as passagens em favor da escravidão, os versículos que apoiam o assassinato de pessoas que praticam atividades sexuais com pessoas do mesmo sexo não devem ser interpretadas literalmente.

Existe ainda uma forma de pressão por parte de alguns expoentes do clero da Igreja Católica Romana sobre os cristãos LGBT para se submetam a "terapias reparadoras" para modificar sua própria orientação sexual. Essa estratégia da Igreja e o pedido às pessoas LGBT que vivam a condição da castidade são causa de muitas tragédias, incluindo suicídios e graves estados de depressão, entre aqueles que tentam observar e seguir heroicamente os ensinamentos da Igreja.

Por outro lado, segundo estudos mais recentes de psiquiatria e de psicologia, a orientação sexual não pode ser modificada, e essas tentativas, por isso, muitas vezes têm como consequência graves danos psicológicos. Além disso, uma vida de castidade não pode ser exigida a quem não sente dentro de si essa vocação.

Aos cristãos LGBT, não pode ser negado o direito fundamental a uma relação afetiva, independentemente do gênero da pessoa amada. Como a ciência demonstrou que a homossexualidade é uma variante da sexualidade, apelamos para que essa evidência científica seja incluída nos ensinamentos da Igreja.

Em consequência, pedimos a Vossa Santidade que não se dê mais como indicação que as pessoas homossexuais devam se submeter a terapias, mas que, ao contrário, tenham direito a uma vida que preveja também uma relação afetiva no sinal da fidelidade.

Os benefícios sociais e pessoais disso são: uma vida feliz, saúde mental, capacidade de dar o melhor de si no trabalho e no apoio aos outros.

De outra forma, a vida muitas vezes se transforma em uma triste existência com uma série de inúteis terapias psicológicas e psiquiátricas, perda da fé em Deus, de humanidade e amor, como bem testemunhas as frequentes cartas e testemunhos de cristãos LGBT.

Em todo o mundo, muitas lésbicas, gays e transgêneros vivem relações baseadas no amor, na fidelidade e na assistência recíproca. Assim como nas relações heterossexuais maduras, o amor é sobretudo uma experiência espiritual e depois também física. Infelizmente, por causa do preconceito e da desinformação, muitas pessoas associam o conceito de homossexualidade só ao amor físico.

Com referência à declaração de Vossa Santidade de dezembro de 2008 sobre a necessidade de proteger a humanidade como o ecossistema de uma floresta tropical, seguindo a mesma metáfora, podemos dizer que as pessoas LGBT representam uma espécie menos numerosa, mas que se encontra constantemente no ecossistema e, como sabemos, toda espécie é importante e necessária para garantir o equilíbrio criado por Deus

Apelamos ao senhor para que reconsidere a posição da Igreja sobre as relações entre pessoas tanto do mesmo sexo, quanto transexuais, apoiando também a aceitação e a bênção dessas relações no interior da Igreja.

Apelamos a Vossa Santidade para que se cesse de pressionar os católicos a votarem contra leis que autorizem relações entre pessoas do mesmo sexo.

As relações entre pessoas tanto do mesmo sexo, quanto transexuais, não constituem um perigo para a existência da família tradicional, mas, na realidade, sustentam e elevam os valores da família e do matrimônio. As pessoas LGBT representam só um pequeno percentual de toda a população, percentual que permanece constante.

A experiência de não aceitação dos jovens homossexuais e transgêneros, por parte de suas famílias e da Igreja, quase sempre gera problemas no desenvolvimento das suas personalidades. As consequências são muitas vezes dramáticas e podem se concretizar, por exemplo, em tentativas desesperadas de contrair matrimônios heterossexuais, em mascarar sua própria orientação sexual ou em escolher a vida religiosa, mesmo na ausência de vocação.

Das motivações que expusemos, deduz-se como o fato de criar uma atmosfera segura e acolhedora, que permita que as pessoas LGBT sejam elas mesmas, é importante para toda sociedade.

O Catecismo da Igreja Católica afirma que as pessoas homossexuais devem ser tratadas com respeito, compaixão e sensibilidade. Respeito e sensibilidade deveriam ser concedidos a todos, independentemente da orientação sexual ou da identidade de gênero. Se fosse verdadeiramente assim, a compaixão não seria necessária.

Os comportamentos e as opiniões homofóbicas são particularmente dolorosas quando feitos por quem se declara cristão, seja leigo ou religioso, e não são certamente uma forma de respeito.

Deus abençoe Vossa Santidade.
Berlim, 7 de maio de 2011


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